quinta-feira, 16 de abril de 2009

dez anos do madeirismo

alberto lins caldas


o madeirismo surgiu contra os bairismos, os localismos, os regionalismos, os nacionalismo e, por mais estranho que pareça, contra tudo aquilo que se proclama universal, a europa camuflada, a nação e a mídia adoecedora nas artérias. Essa dimensão fascista dos nacionalismos que tudo infesta, faz calar, faz seguir um molde, um modelo, esse medo de se afastar da manada, do calor do rebanho, de balir todos ao mesmo tempo, cozidos no mesmo calor dominical. o madeirismo colocou outro horizonte, o do enfrentamento desse horror, seja com o silêncio do poema, seja com a alegoria brutal da prosa, seja com a arte que não aceita sua inescapável servidão, seja com uma crítica e uma filosofia em constante guerrilha como a hermenêutica do presente, que lutou contra uma universidade “ninho de ratazanas”.
o manifesto madeirista foi publicado pela primeira vez no jornal “alto madeira”, em 10 de janeiro de 1999, sendo publicado no jornal “o estadão” no dia 24 do mesmo mês, e “nunca antes um artigo ou movimento artístico provocou tanto incômodo e discussão em rondônia”. dez anos depois, com muitas tentativas de puro silenciamento, o “manifesto madeirista” e seu movimento continua em plena criação, discordância, potência, seja com carlos moreira, com sua poética do silêncio, seja com gláucio giordani, e sua música sempre diferente, seja joesér álvarez com seu “coletivo madeirista”, seja comigo mesmo com minha literatura do “enfrentar o horror”, seja com os muitos que sentiram o quanto podiam seguindo essa indicação.
e a “arte rondoniana” jamais poderá ser a mesma, ou melhor, como jamais houve arte entre as minhocas, só podemos falar de arte, de poesia, de literatura, de música, de filosofia, depois do madeirismo: radical? não! infelizmente a mais límpida realidade. só poderão fazer alguma coisa tendo como horizonte o madeirismo, ou continuam com seus ritmos de colonização, com suas formas patéticas, seus giros facistóides. é um horizonte a ser destruído, derrubado, atravessado, mas não um horizonte que se possa retroceder, que se possa voltar. ou se fica no lugar, o que a grande maioria faz por precisa incompetência e servilismo; ou se sai dele, atravessando por muitos outros horizontes em transversais.
nesses dez anos muito foi feito por nós quatro (alberto, carlos, joesér, gláucio). obras de todos os tipos que confirmam o proposto, o apontado no manifesto. ganhamos muitos inimigos e muitos amigos, além de uma multidão de indiferentes expectadores. conseguimos o principal, um domínio cosmopolita, livre, aberto e múltiplo, contra o horror que nos estrangula. como balanço de dez anos as obras criadas e expostas são a resposta mais que contundente de um movimento que iniciou com um pequeno manifesto, mas grande em suas pretensões. estamos compondo essas promessas. quem não for mineral nem vegetal, basta abrir o corpo para perceber o quanto foi feito de tão pouco. e isso ainda não é suficiente. restam ainda os vinte, os trinta, os quarenta, os cinqüenta anos do “manifesto madeirista” com sua ironia central. sem nós, espero, porque precisamos descansar, mas outros virão.
cadê a tua voz?

sábado, 4 de abril de 2009

liberdade de expressão e fascismo regionalista

alberto lins caldas

não temos o “costume” da liberdade ou da liberdade de expressão. ao primeiro riscar do cheiro de pólvora linchamos o monstro q ousou se “expressar”. não há crime maior. dizer o pensa, o q sente, o q deseja, o q vê, o q imagina, principalmente quando discorda do q acreditamos ou vivemos, só pode ser um crime, e o infeliz q ousou dizer algo contra nossa maneira de ser e de estar, um criminoso. isso não passa de fascismo, mas está inclusive na lei: podemos ser processados por “apologia ao crime”: esse é um crime q ninguém nota. por uma coisa muito simples: uma lei fascista num mundo fascista não pode ser entendida como fascista.
quando o regionalismo, o localismo, os nacionalismos se juntam, se articulam pra manter um fascismo legislativo, judiciário, governamental, local ou nacional, um fascismo dos costumes, entramos num momento perigoso, ou nunca saímos desse momento sempre a ponto de linchar alguém, ou de silenciar por todos os meios legais, amigos, passionais, administrativos, afetuosos, e violentos, traumáticos, tortuosos.
escrever sobre sua cidade, seu bairro, seu estado, seu país, escrever qualquer coisa, deve e pode ser suportado enquanto idéia, opinião, perspectiva, sem q o criminoso seja destroçado, expulso, violentado, massacrado. basta q respondamos as suas palavras, suas opiniões, sem tocar no seu salário, na sua vida, no seu corpo, na sua paz, nas suas relações vitais. mas não conseguimos conter o ódio carniceiro diante da diferença, diante do outro q se expressa, estranhamente, como outro. e todos são democratas! imagine se todos se considerassem do partido nacional socialista: todas a diferença iria, depois dos campos de extermínio, pros campos do esquecimento. e todos muito felizes ficariam bebendo sua cerveja bem gelada, coçando o bucho e conversando sobre “futebol e mulher”, contando piadas sempre preconceituosas e uns rindo com os outros como cordeiros perversos, vendo lá longe a fumaça dos crematórios.
e há sempre de tempos em tempos alguém q diz o q pensa, mesmo q seja infantil ou primitivo, seja inofensivo: quanto mais inofensivo mais ofensivo se torna: quem escreveu sendo inofensivo mostra q é fraco: chama os carniceiros de plantão, as milícias do bom pensar, os guardiões dos bons costumes, os servidores da lei.
não se sabe bem porq, mas de repente alguém diz o q pensa, escreve, canta, grita, delira, poetiza, goza o q pensa. e o mundinho vem a baixo. a democracia vem a baixo. e vemos quão pouco suportamos a diferença q se mantém diferente, o diferente q diz o q pensa. vemos até onde vai nossa democracia criada e mantida nas portas dos governos, nos sensos comuns, nos capachismos, nas vergonhas de fugir das manadas, se mantém na plena e dura burrice em suportar a diferença.
seja cantar uma letra de música idiota de algum estado ou da-nação conforme deseja, seja atacar o horror de uma cidade, de um estado, do país; seja atacar uma matilha de ratazanas q dilapidam uma universidade; seja criar um movimento artístico maior q o universo minúsculo de minhocas histéricas. só podemos cantar o de sempre, só podemos ser igual aos outros, só podemos viver a vida de todos.
a resposta à diferença é sempre estridente, sádica, cheia de frases feitas, imagens feitas, gestos feitos, pré-feitos, onde todos podem beber sem se embriagar, onde a verdade fica a disposição da anta, do burro, do jegue, do animal de plantão (não confundir com o “animal de platão”). e o pobre diabo é escorraçado sem a piedade dos religiosos, q os religiosos gritam q possuem às toneladas, q os democratas gritam q possuem o tempo inteiro, q a “população em geral” se orgulha o tempo inteiro, enquanto alguém não se põe a ser diferente, dizer a diferença. e o medo á diferença é simples e elementar: a diferença faz aparecer a mesmidade, a falsa igualdade, a mentirosa fraternidade, a amarga mentira da amizade, do amor, do carinho, da cumplicidade, do companheirismo: a diferença além de mostrar q o “rei ta nu”, mostra q a “população em geral” e a “intelectualidade local” não passa de uma massa fascista, perigosa, burra, doente e ressentida.
se não fosse o diferente, o estranho, o contra, jamais saberíamos quem é um crápula, um nazista, um covarde, um regionalista estéril, um nacionalista de carteirinha com saudade das ditaduras. pra isso temos q reconhecer a função do diferente: expõe o quanto são pulhas as massas midiáticas, os batráquios metidos a artista, os jabutis travestidos de intelectuais, as ratazanas universitárias, as antas vestidas de professores.
esse diferente pode ser alguns q conhecemos muito bem, alguns de nós, ou o último, o “professor nazareno”. tanto faz a quantidade da diferença, a questão está na quantidade da igualdade. na força desproporcional entre o diferente e as matilhas, os cardumes, as manadas nazi-fascistas sobre o in-feliz da vez. mas o infeliz da vez é sempre mais alguém, sempre outro q escapa ao campo de força da rocha irremovível da mediocridade.

sábado, 28 de março de 2009

DIÁLOGOS SOBRE O MOVIMENTO MADEIRISTA

ALBERTO LINS CALDAS



caro amigo, o madeirismo completou dez anos no último dia dez. eu em lembrei. algo foi feito aí? acho q não! precisamos inventar algo depois. depois do esquecimento. mas se vc lembrou, tudo bem. pelo menos uma alma se salvou, mesmo q no fim deus não salve ninguém e termine bêbado com lúcifer num buteco de uma zona qualquer.
abraço forte e muita falta das nossas conversas.

caro amigo, leia isso: "O Manifesto Madeirista foi publicado pela primeira vez no Jornal Alto Madeira, em 10 de janeiro de 1999. Estava no Jornal O Estadão no dia 24 do mesmo mês.": perdemos o dia 10, mas resta o dia 24. vamos esquecer duas vezes?
abraço fraternal.

caro amigo, em 1998 o importante foi o jornal em papel. era o q existia e o q iniciou o movimento, a discussão, q não começou em internet nem em coletivo algum, q inda não existia. lembre-se q no século passado existia era jornal e gente, não internet. se vc postou na internet em dezembro, muito bom, muito bem. mas é também bom não ser anacrônico. o importante foi o jornal e o movimento é do século passado. não é do mundo da internet. se se adaptou, se anteviu esse mundo, tudo bem. não adianta dizer nada da década de 90. a internet não era nem de longe o q é hoje. o movimento madeirista deve ser pensado na dimensão, com os integrantes, com as articulações e veios q formou. reescrever ou escrever exige mais pontuação. as vezes derrapamos pros nossos delírios, sonhos, e não foi bem assim. pense sobre o caso. memento!
abraço.

caro amigo, o movimento começou no jornal em papel. inverter as coisas agora é perder o q foi o movimento. a expansão começou foi em papel. junto se começou (e vc foi quem fez isso melhor) com a internet. não inverta porq nessa inversão somem pessoas. desaparecem casos, mudam sentidos. o depois é quem lê o antes, cria o antes, mas deve ter cuidados epistemológicos pra não fazer o q fez os dois sites "do madeirismo". preste atenção! olhe! pessoas são excluídas e outras q não teem nada com o caso são incluídas. essas inversões são conhecidas. o importante foi o papel. a internet, no caso, e no início, é apenas um dado a mais. nunca antes.
abraço.

caro amigo, quando se pretendeu fazer algo como “do movimento madeirista ao coletivo” se fez a inversão, a exclusão, a eliminação: sem culpas. vejamos!
o movimento tem uma luta em jornais, entre pessoas, tem um período de grande luta, q acho q termina com a publicação do livro “Madeirismo: Ensaios Libertinos” (Porto Velho, Caderno de Criação 28/EDUFRO, 2003). e “começa” a luta de cada um. lembre de carlos, gláucio e eu, já q bira saiu desde o começo. cada um fazendo uma coisa. publicando artigos, livros, poemas, música, shows, performances, exposições.
o movimento continua com cada um de nós. ele não se transforma no “coletivo”, q é um processo seu. uma história sua. a sua trajetória no madeirismo.
o movimento madeirista não vai “do movimento madeirista ao coletivo”.
no próximo mês estou lançando um livro aqui no recife, e em março em porto velho e tudo isso faz parte do movimento madeirista, mas não faz parte do “coletivo”. se ele antes incluiu coisas minhas, tudo bem. mas o movimento é maior q o “coletivo”, q faz parte da sua história.
é como se eu quisesse q o movimento se reduzisse a minhas publicações, minha luta de jornais, meus processos na universidade q incluíram o movimento e minha atuação. o movimento não sou eu. a minha trajetória é a da “literatura do horror”, a do “enfrentamento do horror”, a da “poética do horror” (dentro do movimento madeirista). por isso não pode ser “do movimento madeirista à literatura do horror”, o q seria excluir, expulsar a vida, a luta, a história, as constituições dos outros. o “coletivo madeirista” é seu equivalente do meu “literatura do horror”, q começou a ser publicada desde “litera mundi”, e antes em artigos na net (zona de impacto).
compreende a inversão? compreende as exclusões? compreende o q foi feito? o movimento madeirista não começa na net e vai até o coletivo. não vai de vc ate vc. do manifesto na net até o coletivo. sei q vc não via assim. mas é assim q as coisas se apresentam.
memento!

caro amigo, só posso falar do q conheço do projeto: o nome: e ele diz algo: é desse algo q falo: NÃO HÁ DO MADEIRISMO AO COLETIVO (repetindo: como não há “madeirismo: do movimento a literatura do horror”): e não há como não fazer juízo de valor: todo juízo é de valor e todo valor é um juízo: não há como escapar. essa é uma atitude hermenêutica sim! não atirei primeiro! não faço isso. está esquecido de como começou esta conversa? basta ir ao início da página. e não adianta dizer q essa seria uma “história coletiva”. isso piora!

caro amigo, coisas distintas falamos, sim. não é “a saída de um ponto de origem a um outro ponto”: é o seu ponto, a sua posição: é essa posição q tenho cobrado de vc. dela vc pode ver bem o seu ponto e alguns outros. lembre: cada um de nós criou o seu próprio movimento, suas obras (uma obra singular dessas não pode partir “do movimento” a um desses trabalhos individuais). o seu é o “coletivo madeirista”: não misture, não junte, não torne coletivo o q é individual, nem individual o q começou coletivo.
não houve nada disso: “algo q começou c/ uma proposta – e se transformou em outra”: vc mistura seu movimento pessoal com o “movimento madeirista”. se vc não perceber isso qualquer diálogo é inútil. pois esse é o ponto. vc pretende uma coisa q não é sua, não pertence ao seu lugar, sua perspectiva. o “coletivo madeirista” faz parte do “movimento madeirista” como a sua parte, o seu trabalho. só! e é muito.

caro amigo, essa coisa de coletivo é com vc: acho uma coisa falsa: o coletivo normalmente esconde forças bem pouco coletivas, bem pouco madeiristas. aceito conversar “sem inocências, dentro de uma perspectiva auto-crítica”: mas q isso não seja um desvio, próprio das palavras, q existem pra desviar, estando eu mesmo dentro dessa perspectiva: se não fosse assim não conversaríamos.

caro amigo, sem dúvida q é comigo, assim como envolver os demais foi contigo – são agregações sempre em busca de um certo ponto de vista – sempre peculiar – máscaras de certo discurso

caro amigo, vc pergunta e sabe a resposta: o “movimento” se refere tanto a uma “luta (textual) localizada e regional – limitada” quanto a uma luta pra “chutar cachorro morto (intelectuais (?) locais)”: sim! esse é o começo explícito da luta. não adianta inventar outro. ao mesmo tempo é a resultante de muitos processos q lembrei a vc e q vc tenta esquecer. não adianta “trocar informações”: isso não resolve muita coisa não: chamar a historiografia, os documentos, é escamotear. a briga deve se dar em outro campo, fora das ocultações: poderes q se escondem, q se esquecem e q se não se exporem nada resolverão. vamos mais.

caro amigo, essa sua abertura aqui é boa, mas se vc sair da perspectiva q se colocou. aí sim podemos “expor tudo, dar a cara a tapa”. por sua posição (sempre no sentido estratégico e de forças) sei q “a intenção existe”: mas como se denuncia aqui, talvez, pela perspectiva, não passe de intenção.

caro amigo, o madeirismo NÃO começou com uma “proposta coletiva (grupal”: aqui começa seu desvio. esse desvio é o ocultamento das forças formativas, genéticas. onde vc confunde seu “coletivo” com as forças genéticas do “movimento madeirista” e seus desenvolvimentos. o primeiro problema é esse: a confusão entre o “movimento madeirista” e suas forças e o “coletivo madeirista” e suas forças próprias, suas, devidamente suas, meritoriamente suas, e só suas. nunca fiz nada pelo “coletivo”, nem faria: é e sempre foi o seu trabalho. essa conversa de “em nossas conversas e a partir de um direcionamento seu, ficamos de elaborar um manifesto – qdo cheguei na reunião, o texto estava pronto” é um desvio seu: ISSO NÃO ACONTECEU! basta checar carlos moreira. foi com ele q a idéia do movimento surgiu (foi ex-posta!). não houve isso q vc diz. a memória tem muitas imaginações quando tem interesses. a minha não precisa esconder as forças formativas porq não ganho nada com isso (do meu lugar posso ver as forças formativas dos outros e a minha, enquanto vc não conseguem ver senão as ‘próprias” e as “nossas”: e isso não é por nenhuma excelência: é questão de posição).

caro amigo, vc se envolveu. da maneira q descrevi acima. mas do lugar onde vc se colocou não pode mais ver q se envolveu em algo meu, processos onde vc estava, mas não como “autor”, “gestor”. essa é uma das nossas questões principais. seu papel nas forças iniciais foram grandes como as de carlos moreira. mas não foram gerativas. vc não se juntou a nós. nesse momento, q é o momento da revisão do manifesto e reunião, vc fez parte. estava lá e daí por diante tem sua trajetória, suas forças, seu lugar. parta dele, esteja nele e verá! e não há “fatocorrido”. há perspectivas, interpretações, interesses, forças. o resto é conversa.

caro amigo, vc sim: o coletivo virou o trabalho da sua vida (não esqueça q também da minha, de carlos moreira e de gláucio): isso é muito bom: isso é bom demais: mas pra isso vc teve q construir objetivamente uma história pra vc. como o movimento madeirista pra mim não traz nada, posso dizer como se articularam as forças: não foi da sua maneira. o texto tava pronto e com cópias pra cada um porq foi assim q as coisas foram acertadas. e vcs leram e fizeram as poucas modificações. q teve seu dedo sim, mas seu dedo maior estava/estaria no coletivo, no q vc criou, inventou, expandiu. q não foi pouco. enquanto eu escrevia e publicava artigos e livros, vc fez a parte de criação artística. carlos e glaucio também. e estrategicamente vc criou o coletivo: tudo bem. tudo muito bom. perfeito! sua parte vc estava e está fazendo. mas o tom nessa sua nota é já um desvio de forças. desvio desnecessário: o “coletivo” e a história dele é sua: não é preciso o desvio, não é preciso refazer a história pra ele ser seu, pra vc ter uma fatia grossa do movimento madeirista.

caro amigo, coletivo não é quando vc se “junta a nós”: quando isso acontece, vc já é uma das forças. quando o movimento passa a ser um GRUPO não passa a ser um coletivo, nem o “coletivo”. nem carlos escreveu o “manifesto”. fez tanto quanto vc. ou melhor, fez mais do q vc.
até o manifesto, até a escrita do manifesto, até o convite, a reunião sim “Foi tudo fruto somente de minha cabeça”, mais as forças de conversas individuais nossas, as forças q criaram a “hermenêutica do presente”, as lutas na universidade contra as ratazanas e o “colejão”. depois não. passamos por um momento grupal, não coletivo, onde discutimos até o nome e muitas outras coisas e sonhos. nessa parte vc tava lá e pode falar tanto quanto eu pois ocupamos, aqui, o mesmo lugar. da mesma maneira q não posso falar do seu lugar nos processos do “coletivo madeirista”, nem do de carlos moreira criando musica e poesia com “caixa de silêncio”, com a “poética do silêncio”. por isso o madeirismo não é nem pode ser “madeirismo: do movimento ao coletivo”. todos nós inda estamos lutando no movimento. não é “madeirismo: do movimento à poética do silêncio”. como venho insistindo, não é “madeirismo: do movimento a poética do horror”.
pense nisso q não há nenhuma loucura. cobrar um lugar é cobrar coerência e campos de visão.

caro amigo, seu ar aqui é de ressentimento, de eu queria uma coisa certa (q fosse coletivo) e foi um golpe, um erro, uma coisa tramada: foi feito por um antes de mim. isso é verdade: FOI FEITO SEM VC, SEM CARLOS, SEM GLÁUCIO. escrito antes de todos vcs. e conversado com carlos moreira, lido pra carlos. e expandimos. isso é q é duro pra vc. sim, vc não estava no começo. o começo não foi nem coletivo nem o “coletivo”. foi eu! é uma merda, mas é assim, foi assim, sem coletivismos nenhum: nem era pra ser, nem podia ser: um texto como aquele do “manifesto”, mesmo sendo hoje fraquinho, nenhum de vcs poderia ter escrito na época (faltava formação, visão e potência): vcs estavam prontos pra segui-lo, não pra tramá-lo, não pra por todas aquelas forças em andamento (antes!): esse é um dos problemas seus: ACEITAR A GENEALOGIA DAS FORÇAS de onde veio: nada coletivo, nada pra coletividade: se tomou esse cunho foi porq as forças em questão, antes, puseram assim a realidade do “manifesto”.

caro amigo, leia direito. estou pondo as coisas da perspectiva q vc não pode assumir. se assumir perde a dignidade q vc criou pra vc no movimento. tenho dito q VC DEVE ASSUMIR A DIGNIDADE Q LHE CABE. q é suficiente. não a q vc inventou pra vc.
das forças iniciais sou pai, mãe e filho (trindade idiota!). e não foi um simples “chamar um grupo de pessoas pra assinar embaixo”: as forças q fizeram com q cada um aceitasse isso faz parte das forças iniciais q vc só parcialmente esteve lá. foi antes! sei q sou essa trindade idiota porq O CRIADOR FUI EU. mas de um momento em diante, passou a ser de todos, do grupo, não de um coletivo. é nesse ponto onde vc começa a se pôr. esse é o lugar da sua perspectiva.
nós, o GRUPO, passou/passamos a ser a trindade idiota, mas NÃO PODE ESQUECER A TRINDADE IDIOTA Q SOU EU, ANTES. por isso, repito: não pode ser “madeirismo: do movimento ao coletivo”: em nenhum sentido. inda estou no movimento madeirista, estou lançando livros e artigos o tempo inteiro. tenho minha trajetória no “movimento” q não é, em nenhum momento coletiva. e carlos moreira há muito tempo está na trajetória dele. vc só pode falar bem da sua (do “coletivo madeirista”: e entender q O MOVIMENTO SE FAZ COM MUITAS PARTES SEPARADAS, NÃO COLETIVAS, NÃO GRUPAIS: essa é sua visão, seu lugar, suas forças: e como são forças-potentes, sozinhas, entrou num delírio de pensar q o “movimento” era coletivo ou o “coletivo”).

caro amigo, como disse acima o “movimento madeirista” começa conosco, mas AS FORÇAS DELE NÃO COMEÇA no CONOSCO. esse é um ponto fundamental pra nos entendermos. vc precisa avaliar, sopesar essas forças e suas fontes. sim! o “coletivo madeirista” começa com vc. sim! pra “para localizar um fazer artístico q incluiu trabalhos em parceria, ou seja, “coletivos””: sim! e creditou tudo corretamente. não há desvio de autoria. sem problemas. e comigo até poderia haver e eu não reclamaria. aqui vc localiza algumas forças. e faz bem. as forças q gestaram o coletivo nasceram de vc, do seu trabalho, das suas criações. tudo muito bem. tudo muito bom. mas quais forças gestaram o “coletivo madeirista”? vc nunca negou: o “movimento madeirista”! esse é seu problema. ou um dos problemas! vc consegue localizar bem as forças gerativas do seu coletivo, mas não as do “movimento madeirista”: sabe por q? porq vc não estava lá. estava somente e apenas num dos momentos das forças gerativas: o convite pra se reunir, a leitura e correção do manifesto, e depois: vc não estava nas fontes do “madeirismo”: quem estava lá era eu (grande merda!, mas foi assim: agora é tarde. é tardíssimo). por isso posso lhe dizer o q digo. porq estava nas fontes de criação, de estímulo, de potenciação, de gestação de todos vcs (quem sabe os desejos, ilusões, estímulos, afetos dos pais quando gestaram “alguém” são eles). e isso é coisa pra se ter orgulho, não pra se esconder. da mesma maneira q ex-ponho e sempre ex-pus as forças q me gestaram.

caro amigo, q bom! quando a proposta do “coletivo” foi proposta lhe disse e lhe digo: é sua, é sua vida, sua criação. não entraria, nem entro, da mesma maneira q tou dizendo q ele é uma parte, não o todo. e não tinha q entrar por q o “coletivo madeirista” não era nem é o “movimento madeirista”. tou fazendo minha parte.
sei q surgem forças além do esperado. mas não misturo as coisas, não me coloco onde não me é devido. me coloco epistemologicamente, criticamente no lugar onde, no caso, estive e gestei. não quero mais nem menos. é suficiente. por isso não há, provisoriamente “o nosso”. pode chegar a haver. onde se faria uma história do “movimento madeirista”. há uma monografia feita há muitos anos por um estudante de uma faculdade q não recordo nem o nome, q fez algo assim. mas faz muito tempo e naquele tempo não havia as dispersões q existem hoje.

caro amigo, não há revolução q não mate seus criadores, não há movimento q não apague seus gestores: porq o madeirismo escaparia? sua maneira de sentir e pensar, e escrever sobre isso, e vc não percebe isso, é já uma exclusão. não a césar o q é de césar: mas apenas localizar as forças, as fontes. realmente vc nunca se apropriou de nada. quer se apropriar do q é seu (o coletivos, as forças dele, as criações dele). e isso é justo! nunca disse q vc se apropriou de nada meu. e poderia e pode. é tudo seu como sempre disse. ESSE NÃO É O CASO.

caro amigo, como vc só está “colocando as coisas como são”, também quero colocar as coisas como são – pra mim! vamos a alguns pontos. como não há nunca inocências em nada, muito menos naquilo q trata do tempo, das origens, vamos a algumas considerações.
se eu fosse tomar o sentido, equivalentemente, “madeirismo: do movimento ao coletivo”, ou aceitar sua data, eu diria “da hermenêutica do presente (1996) ao movimento madeirista (1999-2009), mas isso seria partir do meu ponto de vista, e não do “nosso”.
e o madeirismo é mesmo fruto da “hermenêutica do presente”, e todos nós, secundariamente, inclusive eu, somos crias de um processo maior “hermenêutica do presente”, q é fruto de uma escritura [de “babel” (1988) a “samsara” (1996)] e muitas conversas e lutas. isso seria entender as várias emergências (nada é ab ovo: mas fontes múltiplas de múltiplas fontes, onde sua publicação na internet faz parte, mas nada iniciou ali: apenas com o jornal, em papel (pois era um mundo de papel: ninguém soube nada da edição na internet e nem eu, inda ontem, sabia dessa data), foi q o movimento iniciou, a briga, as contentas iniciaram, as discordâncias) do q foi o movimento madeirista. ver genealogicamente como queria nietzsche ou arqueologicamente como queria foucault (ler a “primeira” história do “movimento madeirista” num artigo de carlos moreira: http://www.albertolinscaldas.unir.br/medo.htm).
poderíamos falar também das conversas entre nós dois, as suas rupturas; ou as conversas com carlos e as rupturas dele. e o “coletivo madeirista” é sua parte nesses processos todos: não o único, nem o mais importante, nem o “primeiro”, muito menos o “último”: q ele tenha uma cronologia, tudo bem, e q se confunda com sua atuação, tudo bem: mas não pode devorar os processos, as forças constitutivas, as fontes ainda jorrando múltiplas, quando e onde até a publicação na internet em dezembro de 1998 faz parte. 1998 é o ano em q foi escrito o manifesto: dezembro.
podíamos também tomar como referência ou quando escrevi o manifesto (e falei com carlos e vc foi chamado também e se incluiu gláucio e bira, e fiquei estimulado pra escrever mais e revisar e tirar as cópias pra vcs), ou quando nos reunimos pra discutir as modificações no texto (mínimas, se vc se lembra: inda tenho os “documentos” de modificações de cada um e as datas).
mas a minha escrita do manifesto ou a reunião em dezembro de 1998 são também partes de múltiplos processos q, gostemos ou não, inicia numa tarde de 15 de dezembro de 1988 quando comecei a escrever “a muralha”, primeiro conto de “babel”. mas não!: essa tarde foi precedida por muitas confluências (como a publicação do conto “o enigma” no jornal do comércio, 26 de dez. de 1985), lutas, jogos, forças q advém de anos antes (ad nausean - ad infinitum, e terminaríamos no ad absurdum: sairíamos do “movimento madeirista”). isso com cada um de nós quatro (cada um com suas genealogias, suas fontes, seus estímulos, suas superações).
por isso não pode ser razoável “madeirismo: do movimento ao coletivo”, nem a publicação na internet como base. e sobre isso não comentaria nada se vc não tivesse respondido com tanta veemência “a data q vale p/ mim” (vale porq assim a sua história passa a ser principal, seu gesto de publicar central, iniciatório: o “coletivo madeirista” surge como central, como fonte e fim!): sim! é a data q vale pra vc: e dizendo isso disse bem, mas não disse tudo e escondeu muito, escondeu demais. daí essas respostas. principalmente num mundo onde o alpha et omega são tão problemáticos, tão rapidamente apagados.
tivemos nós três (eu, carlos e vc: nessa ordem!, não noutra ordem, o q seria arranhar os encontros e sua ordem e seus poderes) encontros bons, como queria espinosa. e algo como essa discussão fere esses encontros tão bons. fere porq é uma força de reencaminhar, de reescrever fora dos encontros, fora das forças inda em encaminhamento, em criação. e isso não é bom, não é bom encontro, boa cozinha, boa mistura.
a questão entre internet e jornal é uma questão historiográfica q mente sobre a importância da net no momento, pois o movimento foi iniciado num mundo predominantemente de jornais de papel; quanto a data mente por colocar uma seqüência falsa pra dar prioridade a um coletivo da trajetória de um com outros desse processo, como se fosse a finalidade, o fim do movimento, e assim faz exclusões, como inda quase no começo me excluíram do site do madeirismo e incluíram uma companhia ilimitada de gente amiga, mas q nada tinha nem tem ainda com o “movimento madeirista”.
cada um de nós teve e tem seu processo, sua trajetória, suas forças, trabalhos, sacrifícios. o “movimento madeirista” não é de nenhum de nós, nem deve ser, mas se tem q ser de alguém, será meu, não seu, de carlos ou de gláucio, muito menos do “coletivo madeirista”, do “coletivo oroboro” do recife (q também faz parte da história!). como não é nem deve ser de ninguém, façamos a história do madeirismo sem as normais destruições da memória, as reconstruções de interesse, as inversões institucionais.
essa luta por “data” e por “origem” escondem uma luta por primazia, por força inicial, por quem é o chefe, por quem criou o q, o q é mais importante: saber quem mija mais longe, de quem é o brinquedo: isso é tolice! querer isso é tolice! é muito pouco diante do tanto q se fez.
digo isso tudo não moralmente, isto é, não é nenhuma moral q me faz escrever isso, mas uma ética. acho bom vc pensar assim também. faz bem pra historiografia, pro “movimento madeirista”, pro seu “coletivo” e pra todos nós também.

caro amigo, vc diz q não aceita “apenas o texto de carlos”: ele é apenas um sintoma, um momento, uma posição num momento. e não diria “c/ o auto-elogio impune”: QUEM ESTAVA DIRETAMENTE TOMANDO NO CU, NO CUZINHO E NO CUZÃO EM JORNAIS ERA EU E ELE: não esconda isso também: nós é q agüentamos a briga em jornais, e eu dez vezes mais do q ele. vc não pode pedir a carlos, naquele momento um texto crítico mais profundo. aquilo é um documento perfeito de um segundo no tempo: e como documento falha, principalmente quando interpretamos como não é devido: como não é devido?: não levando em conta porq ele foi escrito, quais pressões ele sofria, q direções ele indica, q caminhos ele cria, quem ele defende, quem ele repudia, e por aí se vai. por isso sua proposta “pensar as contradições do discurso e a práxis parece um caminho bem melhor e mais próximo do horizonte que queremos alcançar” parece muito bom, mas falha por ESQUECER as razões do texto, as forças em atividade no momento do texto: e é disso q falamos. por isso sua proposta de “pensar além deste” é fugir do momento deste: o além do texto de carlos é entrar no “coletivo madeirista”, é desviar as razões do texto, as razões, as forças gestativas do “movimento madeirista”: não esqueça, q essa é nossa questão. ao vc fazer essa crítica, assume o desvio q venho falando.

caro amigo, sua posição “coletivista” não é nem foi a minha. isso não é quixotismo. se fiz o q fiz deve ser visto agora como parte do próprio espírito das forças q criaram o “movimento”. e essas forças são minhas. e as razões pra isso foram publicadas. não tinha q discutir certas coisas, se ia ou não entrar em polêmicas em jornais. e vc mantém a questão de “coletivismo” e “grupalismo” quando isso não é verdade: aceitamos cada um lutar como queria, produzir o q queria, cada um livre. não tinha q conversar nada com vc ou com carlos. se ele também se meteu na luta em jornais foi uma coisa dele. novamente vc inverte as coisas: não seja, com o movimento, “coletivista”: essa é uma perspectiva errada, deformadora.

caro amigo, sim! “nomear as ações como “coletivas” é sim, a minha vivência nesse processo”: sim! essa é sua parte, sua missão, a NOSSA VERDADE. a sua vivência nesse processo exclui a vivência em processos q fizeram o “movimento madeirista” e, assim, vc mentalmente, imaginativamente, colocou as forças do “coletivo madeirista”, as suas forças, a sua criação – no lugar e antes do “movimento madeirista”. é compreensível! mas não é aceitável! sim! recusei e recuso o “cargo”: ele pode e pode ser ocupado desde o começo por vc ou por carlos. sem problema. não quero cargos. e vc assumiu muito bem. com muita capacidade. impossível negar: mas essa não é a questão! mas dizer “quem cala consente” é deixar escapar uma frase sintomática: mas eu não consinto q vc nem ninguém faça uma deformação das minhas forças, das minhas energias, da minha escrita, do movimento q nasceu das forças postas em andamento por mim, gestadas no meu horror e pelo meu horror em luta. vc não pode trocar as forças, as ligações em benefício de qualquer outra coisa: isso não é uma versão. reafirmo: o cargo sempre foi de carlos e seu, e do coletivo sempre foi seu. essa não é a questão.

caro amigo, sinta, se possível, a distorção: “vc abriu mão de conduzir só – vc chamou outras pessoas”: não há, nem nunca houve, no “movimento madeirista”, um líder, um condutor. nada coletivo, nada grupalista, a não ser a assinatura do “manifesto”. por isso não posso “menosprezar a contribuição mínima de cada um no processo coletivo”: é o contrário: tenho dito q vc não menospreze as minhas forças, não se ponha no meu lugar, não queira o “movimento madeirista” para seu coletivo. a sua é o coletivo. o resto não é coletivo nem o “coletivo”. acho q isso é obvio demais. não há jogo coletivo depois das assinaturas. isso é um delírio seu, q serve a vc, por razões suas.
não criamos um “grupo”, criamos um “movimento”. vc criou sua história, eu criei a minha, carlos e glaucio as deles. por isso mesmo, REPITO!, não pode ser da maneira q vc quer. é precisamente por respeitar o lugar, as forças, as perspectivas, as histórias de cada um.
reclamo apenas q não se ponha no meu lugar, não dissolva as forças minhas nem o q criei, nem anume ou menos preze a dos outros, devorando tudo pro seu “coletivo”. se vc não entende nem sente isso é porq do seu lugar, da sua posição, da sua perspectiva, dos seus interesses, da maneira como vc passou a contar pros outros e pra vc mesmo – tornou impossível entender ou criar uma história do “movimento madeirista” sem q seja da sua perspectiva: daí o “madeirismo: do movimento ao coletivo”.

caro amigo, quando vc esvreveu “a data q vale pra mim” diz certo, é sintoma e não pode mais fugir. e logo cai em outro sintoma grave q explica muito: “Pq valorizar o depois se podemos (nós) instaurar o antes?”: esse antes é meu, não seu: quem pode dispor dele, quem pode ex-por ele, quem pode indis-por ele sou eu: essa é minha posição. E VC QUER FAZER ISSO! e logo depois pergunta: “Vale mais o documento impresso em papel jornal do “Alto Madeira” “local” ou o ato criador coletivo?”: sou eu quem deve responder porq sou eu quem desatou forças e fontes anteriores: VALE MAIS O DOCUMENTO IMPRESSO!: vale mais levar em consideração as forças, as fontes, as potencias q lutaram pra chegar até aquela reunião lá em casa e na publicação em papel num mundo de papel (vale porq é o q valeu no tempo! no momento! não agora, talvez). e o “ou o ato criador coletivo?”: não posso negar esse ato DEPOIS, de cada um de vcs. não queira ele antes. ANTES AS FORÇAS NÃO FORAM COLETIVAS, MAS INDIVIDUAL, SINGULAR. é por não entender isso q vc mistura o “coletivo” com o “movimento”, a coletividade com as singularidades. não!: “tanto faz como tanto foz... as origens n/ vão mudar”: vão mudar tudo: q é o q vc justamente quer: mudar o passado de uma maneira antiética: é justo, se não fosse um crime (já bem explicado antes): o crime do esquecimento, das trocas, das exclusões: o crime de querer um lugar q não é seu: o seu já é de bom tamanho e um bom e grande lugar!

caro amigo, do q era é meu, não abri mão coisa nenhuma: vc é q quer q eu abra: abro não! o q é meu nesse processo é meu! se vc quer pra vc estará compondo uma impostura, tomando o q não é seu. nem eu nem seu pai lhe ensinamos isso.
o q é seu é seu depois q foi meu! o q vc criou é seu e acho muito valioso. mas parece q esse valioso ta querendo comer o valioso dos outros. isso não é correto.
leia melhor minhas razões.

caro amigo, a questão não está nos textos: assim resolveríamos tudo rapidamente (basta uma pesquisa juríco-historiográfica). está nos afetos, nos sentimentos, nas razões, nas ações. e por aí se vai ao longe. lembra q na sua monografia vc me esqueceu e foi lembrado por isso por valdir? vc tem uma propensão normal a esconder, a esquecer, a se apossar do q é do outro querendo sem saber do q o outro é. mas é bom num determinado momento lutar pra saber ver do seu lugar, das suas forças, das forças em andamento, das forças gestoras.

caro amigo, lembrei a monografia (q vc diz explicita e vergonhosamente diz: “minha monografia foi uma enrolação pra concluir logo o curso e pegar o diploma ... eu n/ queria pensar muito”) apenas pra lembrar a vc como vc faz ou esta fazendo com o “movimento madeirista”. e dessa vez sem saber q está fazendo, sem reconhecer, como fez com o professor da banca, seu deslize. e reconheceu porq tem dignidade pra isso. demonstrada muitas vezes. e por isso acho estranho sua postura nisso tudo. vc não merece o lugar q está ocupando no “movimento madeirista”: suas idéias deformam algo muito preciso q também é seu. o q vc pensa estar fazendo como arte não é madeirista há muito tempo. é entrega ao mercado mais cru e repetitivo. o sintoma disso é seu “coletivismo”. As covas razas e os campos de concentração sempre estiveram cheios desse coletivismo fugindo de ser singular, de enfrentar suas próprias forças sem se cobrir com as forças alheias, com os lugares alheios.

caro amigo, essa discussão não fere “esses acontecimentos”: é exatamente o contrário. ferem mais do q os “acontecimento”: fere muito mais coisas. e não tenho “julgamento apressado”: principalmente porq vc inverte aqui um processo q ainda corre na justiça: respondi da maneira q respondi não porq sou “apressado”, mas porq tenho e tive coragem de responder e não ficar engolindo como boi, ruminando e com medo: vc inverte, e essa é uma das nossas questões: ao entender como “apressado” uma dignidade intelectual, artística, filosófica, ética, vc é quem está não apenas sendo “apressado”, mas injusto com as forças dignas e jamais ressentidas q lutaram pra fazer vc mesmo quem é: dizendo o q diz aqui vc se põe, nem q seja por um segundo, em algumas linhas, do lado das forças baixas, negativas, ressentidas: e isso não é digno de vc: - nem de mim. e ao dizer q porto velho é um “lugar q p/ vc é desprezível, mas constitui parte de tua própria história”, usa os mesmos argumentos não apenas dos meus “inimigos” ou quase inimigos, mas usa como palavras suas mesmo: me acusa de cuspir no prato q comi e como: pense melhor nessas palavras pra não receber uma resposta a altura!

caro amigo, repito: “tenho e tive coragem de responder e não ficar engolindo como boi, ruminando e com medo”: e repetirei sempre: PORTO VELHO É UMA MERDA: mas, pra mim, TODOS OS LUGARES SÃO TAMBÉM UMA MERDA!
q vc deixasse, se impediu, o “o cara q te esperou c/ uma pernamanca”: espero sempre isso e dizer qualquer outra coisa é desnecessário. q venham. ninguém precisa impedir nada. não quero nem preciso de amigos pra isso.
quanto a “cuspir no prato q comi” é me transformar no q não sou e esquecer o q sou: um guerrilheiro cultural: isso vc esquece fácil. todos esquecem fácil. e como guerrilheiro não cuspo no prato, cuspo no mundo: QUEM COSPE NO PRATO Q SOU SÃO OUTROS: EU SOU O GRADE E PROFUNDO PRATO Q TODOS COMERAM ATÉ SE FARTAR E PASSARAM A CUSPIR!
esqueceu de tudo, de todo o resto? vc pensando q estou “cuspindo no prato” pensa igual, mais uma vez, aos outros, e nega minha forma de existência, de luta. deixo de ser um “guerrilheiro cultural” pra ser um sujeito desprezível, um rola-bosta q cospe no prato, um faminto a mais q encontrou uma toca de merda quente pra se proteger, como vc, não como eu. pense melhor nisso. isso não é bom. principalmente porq se vc não quer ser também um “guerrilheiro cultural”, o q tem sido com muita coragem, vai passar a ser uma minhoca revoltada, o q seria fatal e injusto. mas pra isso não ser injusto com vc, não seja comigo. se eu “cuspo no prato”, vc não passa de uma “minhoca revoltada”, o q seria duas derrotas: dois querrilheiros q se transformam, um num indigente indelicado e o outro numa minhoca revoltada. triste! muito triste!

caro amigo, NÃO ME QUEIXO de não estar em site nenhum. apenas confirmo isso. o desaparecimento é visível e ... normal. nunca me incomodou, até vc contar uma história do “movimento madeirista” q não corresponde. e o q vc fala aqui é mais ou menos assim mesmo. não tenho muito a dizer. colocar, não colocar, é besteira, mas não é besteira o resto.

caro amigo, não me queixo de falta de memória: digo, antes, q ela criou, substituiu, inverteu, colocou, inventou: por isso não me queixo! nem digo q vc não colocou meu nome onde devia. reafirmo o q disse acima: não reclamo isso. sei da sua integridade! e reafirmo q poderia pelos laços de amizade e pelo meu desprendimento com autorias q vc poderia e pode dispor de tudo q eu faço sem sequer tocar no meu nome. sem problema. por isso mesmo não estou com nenhuma “cobrança injusta e apressada”: a minha cobrança é muito mais filosófica q historiográfica ou autoral: por isso não é nem poderia ser injusta ou apressada. e interessa sim a vc “quem mija mais longe”: essa é a razão de tudo nessa nossa tribo: quem manda no quem, quem toma o q de quem, quem é mais: nenhuma inocência é possível depois de nietzsche: expandir nossa força é nossa razão de viver: persistir na força, persistir na persistência: por isso vc interpretou e interpreta da maneira q interpreta o “movimento madeirista” e o “coletivo madeirista”: pra “mijar mais longe”: com isso vc mijou minhas forças, minhas atuações. e acertou direitinho: “somos todos uns mijões”. e não podemos esquecer disso!

caro amigo, o principal vc disse: “as discussões q tivemos, e as experiências q trocamos foram mais do q um pagamento p/ mim”: essas foram parte das forças, entre mim e vc, q juntos com as forças entre mim e carlos, mais as minhas forças em luta na universidade, com a literatura, a filosofia e as ciências sociais, criou o “movimento madeirista”, e forças q também são um dos eixos escondidos, antes e dentro, da história do “coletivo madeirista”: é assim q vc deve enfrentar essa história (a minha, a do cenhpre, a da universidade, a de carlos, a sua, a de gláucio, a do movimento, a do coletivo, e as histórias de paralelas, contrárias: vc só encontrará essas histórias quando encontrar e enfrentar essas forças, encontrar seu lugar nessas forças, q não é desprezível, mas deve, pra ser a força q é, aceitar a posição q teve, q os outros tiveram).

quarta-feira, 11 de março de 2009

Dez anos do "manifesto madeirista"

O Manifesto Madeirista foi publicado pela primeira vez no Jornal Alto Madeira, em 10 de janeiro de 1999. Estava no Jornal O Estadão no dia 24 do mesmo mês, e nunca antes um artigo ou movimento artístico provocou tanto incômodo e discussão em Rondônia, chegando a ser discutido e traduzido em outros portos. Dez anos depois, o texto continua sincrônico, artística e poeticamente abalador, como queriam seus autores. Leia abaixo, na íntegra, o Manifesto Madeirista:


ALBERTO LINS CALDAS
CARLOS MOREIRA
JOESÉR ÀLVARES
GLÁUCIO GIORDANNI
BIRA LOURENÇO

“Não sei muito acerca de deuses, mas creio que o rio
É um poderoso deus castanho – taciturno, indômito e intratável,
Paciente até certo ponto, a princípio reconhecido como fronteira,
Útil, inconfidente, como um caixeiro viajante.
Depois, apenas um problema que ao construtor de pontes desafia.”

T.S. Eliot

Não basta
os limites de uma cidade, de uma região, de um território,
de uma língua:
todos os limites são virtuais e imprestáveis: criar pontes
(que também são imprestáveis) entre os limites:
sair dos limites: passear no vazio, no ilimitado,
no além do programa.

Não basta
Madeira, Nilo, Ganges, Tietê, Mississipi,
São Francisco, Sena, Tamisa, Amazonas, Indo:
não basta florestas, desertos, oceanos, continentes, ilhas,
corpo, voz, desejo ou sonho: limites a serem contagiados
pelo construtor de pontes: tanto faz quanto tanto foz.

Não basta
os regionalismos nem os cosmopolitismos das moneras:
não basta: precisamos de pontes e, de repente,
o gozo em saltar as pontes:
e no fluxo mortal, mergulhar, gozando todos os sonos.

Não basta o Boto, a Bôta, a Cobra Grande, o Boi:
olhar do colonizador, olhar gordo de ocidentalidades turistas.

Não basta Macunaíma ou Miramar:
pouca canibalidade, muita imitação e respeito.

Não basta riobaldos e sinhás vitórias:
não basta a Grande Arte:
não basta esta gosma de classe média
pregada em edifícios de papel: não basta.

Não basta essa Identidade Nacional:
não basta nem a identidade nem o nacional:
muito menos o internacional.

Não basta o sentido nem a razão. Não basta
a forma nem o formato.
Não basta a aspereza nem o tédio. Não basta
o linear nem o mistério.
Não basta o policial nem o cômico. Não basta
nem a alminha nem o carma.
Não basta o horóscopo nem o nome. Não basta a data nem a hora.
Não basta o peso nem o pesado. Não basta
essa palavra colada às coisas
como se fosse uma barata morta ou restos de carne sobre a cama.

Não basta Gramáticas, Ortografias nem Dicionários.
Não basta a Bíblia, o Corão nem o Manual dos Escoteiros.
Não basta nem Kama Sutra nem Código Civil.
Não basta nem erudição nem Jeca Tatu.

Não basta essa fé provinciana nem esse lirismo água com açúcar.
Não basta a nova nem a velha Bossa.
Não basta o samba nem o carnaval. Não basta o negro nem o índio.
Não basta o branco nem o amarelo. Não basta Europa ou África.
Não basta nem Ásia nem azia, América ou Oceania.
Não basta gêneros:
nada basta esse bastar.
Não basta o grito nem o sussurro.
Não basta.

É sempre muito pouco.
É sempre sempre igual.
Não basta.

Não basta nem a bundinha, nem a garrafinha, nem o uisquinho,
nem a prainha, nem as avenidinhas, nem Ariano, nem os Campos,
nem francês, nem inglês, nem todas essas igrejas mortas,
nem todo esse lerolero global, nem milongas nem toadas.
Não basta.

Não basta essa falta de fome.
Não basta a história, a memória, a escória.
Não basta a Geografia, a Antropologia, a inútil Sociologia.

Não basta esse falso erotismo: esse falo flácido sem flanar:
é preciso a obscenidade radical: não basta a devoração canibal:
é preciso ser libertino: não basta devorar:
é preciso desmembrar o mundo:
torná-lo vazio: sem sentido: e remontá-lo no meio da praça:
não basta tê-lo devorado até a saciedade: é preciso maculá-lo:
remontá-lo com outro sentido e sentido algum:
é preciso libertar a palavra, o som, a imagem, o corpo,
e o não de todo esse peso,
de todas essas idéias, de toda asperidade,
de toda autoridade:
tudo preso a tudo por nada,
sem pontes, sem o deslimite do depois das pontes
e do vôo sobre as pontes: tanto faz quanto tanto foz.

Não basta nenhuma crença: não bastam Deuses, Demônios, Pátrias,
coronéis, generais e lobisomens:
não basta nem miséria nem riqueza:
só a obsessão cria as pontes
e somente a libertinagem do libertino
cria a liberdade radical,
aquela que pode nos fazer saltar pontes
sem precisar a travessia,
para nada,
por gozo.

Basta de descritivismo, de predomínio do objeto.
Basta dessa arte sem imaginação,
sem sonho,
sem invisibilidade,
cheia de realidades tolamente visíveis,
pré-visíveis tramas televisivas.

Basta desse falso diálogo de jornal invadindo a palavra.
Basta de arte-mercadoria: a arte não vale nada:
não é valor/trabalho: o artista não é trabalhador:
arte não é ofício:
arte é orifício.

Basta desse respeito à linguagem:
é preciso implodi-la para insignificar:
precisa ser tocada, maculada, desmembrada
para enlouquecer e deixar fluir e fluir-se.

Basta de caminhar
dentro do estúpido senso comum das mídias,
dessa crítica amigável,
dessa bajulação mútua, dessa análise historicista:
mero acalanto de boiadas.


Chega de Primeiro, Segundo e Terceiro mundo:
a arte é o gozo que dissolve o concreto do mundo:
tanto faz quanto tanto foz.

E chega de bastar:
é preciso reaprender a gozar.

Somos criadores:
pairamos sempre sobre as águas,
mordendo os dedos dos pés,
criando o círculo de fogo sobre o nada:
precisamos somente dizer o faça-se:
essa palavra vinda do mais
íntimo das entranhas:
tanto faz quanto tanto foz: cadê a tua voz?